sexta-feira, 24 de junho de 2011

Teatro Pobre por Jerzy Grotowski



O ritmo de vida na civilização moderna se caracteriza pela tensão, por um sentimento de condenação, pelo desejo de esconder nossas motivações pessoais, e por uma adoção da variedade de papéis e máscaras da vida (máscaras diferentes para a nossa família, o trabalho, entre amigos, na comunidade, etc.). Gostamos de ser "científicos", querendo dizer com isto racionais e cerebrais, uma vez que esta atitude é ditada pelo curso da civilização. Mas também queremos pagar um tributo ao nosso lado biológico, o que poderíamos chamar de prazeres fisiológicos. Portanto, fazemos um jogo duplo de intelecto e instinto, pensamento e emoção; tentamos dividir-nos artificialmente em corpo e alma. Quando tentamos nos livrar disto tudo, começamos a gritar e a bater com o pé,nos convulsionando com o ritmo da música. Em nossa busca por liberação, atingimos o caos biológico. Sofremos mais com uma falta de totalidade, atirando-nos, dissipando-nos.



Porque sacrificamos tanta energia à nossa arte? Não é para ensinar aos outros, mas para aprender com eles o que nossa existência, nosso organismo, nossa experiência pessoal e ainda não treinada tem para nos ensinar, para aprender a romper os limites que nos aprisionam e a libertar-nos das cadeias que nos puxam para trás, da mentiras sobre nós mesmos que manufaturamos cotidianamente para nós e para os outros; para as limitações causasas pela nossa ignorância e falta de coragem; em resumo, para enccher o vazio em nós, para nos realizarmos. A arte não é um estado da alma (no sentido de algum momento extraordinário e imprevisível de inspiração), nem um estado do homem (no sentido de uma profissão ou função social). A arte é um amadurecimento, uma evolução, uma ascensão que nos torna capazes de emergir da escuridão para a luz.






Fundamentos de um teatro pobre.



Em seu livro podem ser encontrados os dez princípios dos estudantes de seu teatro laboratório. Grotowski escreveu este texto para uso interno.



"Fazemos um jogo duplo de intelecto e instinto, pensamento e emoção; tentamos dividir-nos artificialmente em corpo e alma. Em nossa busca de liberação atingimos o caos biológico.



A arte não é um estado da alma (no sentido de algum momento extraordinário e imprevisível de inspiração), nem um estado do homem (no sentido de uma profissão ou função social). A arte é um amadurecimento, um evolução, uma ascensão que nos torna capazes de emergir da escuridão para uma luz fantástica.



Como o material do ator é o próprio corpo, esse deve ser treinado para obedecer, para ser flexível, para responder passivamente aos impulsos psiquicos, como se não existisse no momento da criação - não oferecendo resistência alguma. A espontaneidade e a disiplina são os aspectos básicos do trabalho do ator, e exigem uma chave metódica.






Segundo Grotowski, o fundamental teatro é o trabalho com a platéia, não os cenários e os figurinos, iluminação, etc. Estas são apenas armadilhas, se elas podem ajudar a experiência teatral são desnecessárias ao significado central que o teatro pode gerar.



O pobre em seu teatro significa eliminar tudo que é desnecessário, deixando um ator ou atriz vunerável e sem qualquer artifício. Na Polônia, seus espetáculos eram represntados num espaço pequeno, com as paredes pintadas de preto, com atores apenas com vestimentas simples, muitas das vezes toda e preto.



Seu processo de ensaio desenvolvia exercícios que levavam ao pleno controle de seus corpos para desenvolver um espetáculo que não deveria ter nada supérfluo, também sem luzes e efeitos de som, contrariando o cenário tradicional, sem uma área delimitada para a representação.



A relação com os espectadores pretendia-se direta, no terreno da pura percepção e da comunhão. Se desafia assim a noção de que o teatro seria uma síntese de todas as artes, a literatura, a escultura, pintura, iluminação, etc...






quarta-feira, 22 de junho de 2011

O texto e o Autor e os Intérpretes



Qualguer que seja, em uma representação dramática, o papel do diretor e do ator, o texto continua sendo a matéria-prima sem a qual este gênero de espetáculo não poderia existir. Certamente um hábil diretor e excelentes intérpretes podem levar ao êxito uma peça medíocre, que , longe das luzes da ribalta, torna-se olegível. Mas é o valor dramático desse peça que, na ausência de qualquer valor literário ou humano, lhe permite o êxito. Um bom texto de teatro deve deixar certa margem de invenção ao diretor e aos interpretes/ seu valor dramático é , assim, amplamente independente da perfeição estilística, da riqueza ideológica ou psicológica.



Não há teatro sem texto; não ná teatro sem ator. Qualquer que seja o grau de imaginação do leitor, esta não poderia oferecer-lhe a emoção particular e insubstituível que lhe traz uma interpretação. Emprestemos à palavra o seu sentido forte, seu verdadeiro sentido; o ator trazuz sua linguagem visual e auditiva as palavras e os silêncios do texto; ele os traduz com seu corpo. seu rosto e sua voz, fazendo surgir o trágico ou o cômico, na medida em que o texto lhe proporcione margem maior de interpretação; o máximo de su arte é impor ao espectador a impressão de que não se poderia dar ao texto outro sentido, outro alcance, que não se poderia traduzi-lo mais exatamente em toda a sua riqueza. Mas o espectador não deve ter a impressão de uma tradução; o texto e o desempenho devem parecer inseparáveis, o texto como que concedido para o desemprenho antes de tê-lo sido sob a forma de linguagem, sendo o caso extremo o de certos atores famosos. Faço alusão a Mounet-Sully, que ao esquecerem parte do texto eram capazes de preenchê-la com palavras incoerentes ou banais, continuando a desempenhar o seu papel com a tel intensidade que o público não se apercebia de nada. O estreante, ao contrário, privado de palavras, permanecerá sem ação.



Qualquer que seja a posição que se adote em face do célebre paradóxo de Diderot - que concerne antes a estética do que à técnica. Todo mundo reconhece que nenhum ator cria espontâneamente seu desemprenho e que é necessário uma aprendizagem técnica para obter o efeito de que avabamos de falar. Quer o ator se entregue inteiramente e seja totalmente o personagem que interpreta; que, ao contrário, como sustenta Diderot, após suas conversações co o ilustre Garrick, uma parte dele mesmo permaneçã livre na qualidade de testemunho ou de diretor de cena, é lhe necessário, em ambos os casos, adquirir tarimba, possuir um técnica. A adequaçãodo ator ao personagem não pode resultar de uma improvisação, a não ser para pormemores solidamente enquadrados nem conjunto construido pela reflexão e pelo profissionalismo.



Pode se isolar - arbitrariamente dois elementos na interpretação do ator; a dicção e o desempenho; o primeiro refere-se ao ator enquanto intérprete de um texto, o segundo, enquanto exprime, pela atitude do corpo e pelos gestos, pela expressão do rosto, as emoções de toda espécie que deve transmitiraos espectadores. Em suma, esses dois elementos tem uma importância inversamente, proporcional. No caso em que a beleza, de um texto literário ou as sutileza de um texto psicológico devem antes de mais nada ser transmitidas, o desempenhopode consistir tão somente na procura de efeitos de ordem visual delicados, que se trate de atitudes, de gestos ou de jogos de fisionomia; neste caso a qualidade e comportamento da voz, as nuanças da entonação, o ritmo da fala, os acentos próprios da paixão, do temor, da ternura, da emoção, são o essencial da interpretação; não é preciso dizer que os gestos e a atitude devem corresponder às nuanças da dicção, no abandono ou na tensão.



Ao contrário, numa peça ou nas cenas em que o texto exprime apenas parte do drama imaginado pelo autor, o jogo corporal e o jogo fisionômico reassumem todos os seus direitos; é por eles que o ator exprime a realidade interior do personagem tanto no trágico com no cômico; e o mínimo que se requer da dicção é que ela seja clara e precisa; em compensação, a flexibilidade do corpo, a independência das diferentes partes dos movimentos, a rapidez, ou a amplitude expressivas do gesto, a mobilidade da face, a acentuação dos traços, tornan-se os meios essenciais para exprimir a humanidade própria ao personagem no seu caráter, paixões ou emoções. Raros são os atores em que esses dois meiso de expressão tem igual qualidade.



A verdade que, no quadro de uma representação, o público leva mais em conta os intérpretes que o texto. Poderá mesmo ficar satisfeito por ter visto um texto medíocre muito bem representado, mas não suportará um texto de alta qualidade interpretado desastradamente por atores medíocres.



A verdadeira glória do ator está em transmitir deste modo, por meio de uma arte mais diretamente assimilável, as belezas de um texto, ao qual o público ficaria,sem ele, dificelmente permeável.

segunda-feira, 20 de junho de 2011



O Peso da Interpretação






Ao abriras cortinas do palco, nem sempre a surpresa é agradável, pois não é sempre que temos a felicidade de nos deliciarmos com a magnitude de uma boa interpretação. Sendo o teatro a arte do ator, o peso de uma interpretação é tudo.



Pouco importa o excelente figurino, o cenário deslumbrante, um texto primoroo, o que interessa é ver a entrega do ator em cena. E também, pouco importa se o espetáculo é um drama, uma comédia ou um espetáculo infantil. O ator tem de ser pleno e absoluto em cena



O ator tem de ser entregar de corpo e alma, ser visceral, buscar nas entranhas a melhor parte que a personagem solicitar. Não bastam caras e bocas, jeitos e gestos estereotípicos e micagem em cima do palco, nada disso convence, e pôe a perder qualquer excelente produção.



A interpretação é a parte mais importante dentro de um espetáculo, pois ele que conta a história, que sente a história, que vive a história, por isso, precisa mergulhar até o fim do poço a fim de conhecer o seu personagem. O ator deve e tem de colocar o seu peso na interpretação, assim é que se conhece um bom ator.



Tudo tem de ser meticulosamente cuidado, a voz, o andar, o falar, o jeito de vestir...tudo isso, junto e misturado, vai construir a personagem que sustentará qualquer história, mesmo aquelas rasas e sem pretensões. E isso vale para qualquer ator que esteja em cena.



Não cabe a justificativa pífia de que por ter apenas duas ou três falas em cena, não é preciso todo um empenho, muito pelo contrário. Há situações que essas duas ou três alas fazem a diferença de uma história. E imagine você: A grande chance de mostrar o seu potencial está em duas ou três falas, e você, talvez por se achar mais do que seja... Desperdiça?



O ator é uma profissão que precisa ser levada a sério, até mesmo nos ensaios, alíais, é nos ensaios que um ator precisa se dedicar e caminhar em busca da melhor interpretação, pois é nos ensaios que ele vai conhecendo pouco a pouco, o quanto o peso ele terá no espetáculo. Para aí sim, quando se der o abrir das cortinas, faça a sua interpretação um motivo de admiração. Palavras de Paulo Autran.