quarta-feira, 22 de junho de 2011

O texto e o Autor e os Intérpretes



Qualguer que seja, em uma representação dramática, o papel do diretor e do ator, o texto continua sendo a matéria-prima sem a qual este gênero de espetáculo não poderia existir. Certamente um hábil diretor e excelentes intérpretes podem levar ao êxito uma peça medíocre, que , longe das luzes da ribalta, torna-se olegível. Mas é o valor dramático desse peça que, na ausência de qualquer valor literário ou humano, lhe permite o êxito. Um bom texto de teatro deve deixar certa margem de invenção ao diretor e aos interpretes/ seu valor dramático é , assim, amplamente independente da perfeição estilística, da riqueza ideológica ou psicológica.



Não há teatro sem texto; não ná teatro sem ator. Qualquer que seja o grau de imaginação do leitor, esta não poderia oferecer-lhe a emoção particular e insubstituível que lhe traz uma interpretação. Emprestemos à palavra o seu sentido forte, seu verdadeiro sentido; o ator trazuz sua linguagem visual e auditiva as palavras e os silêncios do texto; ele os traduz com seu corpo. seu rosto e sua voz, fazendo surgir o trágico ou o cômico, na medida em que o texto lhe proporcione margem maior de interpretação; o máximo de su arte é impor ao espectador a impressão de que não se poderia dar ao texto outro sentido, outro alcance, que não se poderia traduzi-lo mais exatamente em toda a sua riqueza. Mas o espectador não deve ter a impressão de uma tradução; o texto e o desempenho devem parecer inseparáveis, o texto como que concedido para o desemprenho antes de tê-lo sido sob a forma de linguagem, sendo o caso extremo o de certos atores famosos. Faço alusão a Mounet-Sully, que ao esquecerem parte do texto eram capazes de preenchê-la com palavras incoerentes ou banais, continuando a desempenhar o seu papel com a tel intensidade que o público não se apercebia de nada. O estreante, ao contrário, privado de palavras, permanecerá sem ação.



Qualquer que seja a posição que se adote em face do célebre paradóxo de Diderot - que concerne antes a estética do que à técnica. Todo mundo reconhece que nenhum ator cria espontâneamente seu desemprenho e que é necessário uma aprendizagem técnica para obter o efeito de que avabamos de falar. Quer o ator se entregue inteiramente e seja totalmente o personagem que interpreta; que, ao contrário, como sustenta Diderot, após suas conversações co o ilustre Garrick, uma parte dele mesmo permaneçã livre na qualidade de testemunho ou de diretor de cena, é lhe necessário, em ambos os casos, adquirir tarimba, possuir um técnica. A adequaçãodo ator ao personagem não pode resultar de uma improvisação, a não ser para pormemores solidamente enquadrados nem conjunto construido pela reflexão e pelo profissionalismo.



Pode se isolar - arbitrariamente dois elementos na interpretação do ator; a dicção e o desempenho; o primeiro refere-se ao ator enquanto intérprete de um texto, o segundo, enquanto exprime, pela atitude do corpo e pelos gestos, pela expressão do rosto, as emoções de toda espécie que deve transmitiraos espectadores. Em suma, esses dois elementos tem uma importância inversamente, proporcional. No caso em que a beleza, de um texto literário ou as sutileza de um texto psicológico devem antes de mais nada ser transmitidas, o desempenhopode consistir tão somente na procura de efeitos de ordem visual delicados, que se trate de atitudes, de gestos ou de jogos de fisionomia; neste caso a qualidade e comportamento da voz, as nuanças da entonação, o ritmo da fala, os acentos próprios da paixão, do temor, da ternura, da emoção, são o essencial da interpretação; não é preciso dizer que os gestos e a atitude devem corresponder às nuanças da dicção, no abandono ou na tensão.



Ao contrário, numa peça ou nas cenas em que o texto exprime apenas parte do drama imaginado pelo autor, o jogo corporal e o jogo fisionômico reassumem todos os seus direitos; é por eles que o ator exprime a realidade interior do personagem tanto no trágico com no cômico; e o mínimo que se requer da dicção é que ela seja clara e precisa; em compensação, a flexibilidade do corpo, a independência das diferentes partes dos movimentos, a rapidez, ou a amplitude expressivas do gesto, a mobilidade da face, a acentuação dos traços, tornan-se os meios essenciais para exprimir a humanidade própria ao personagem no seu caráter, paixões ou emoções. Raros são os atores em que esses dois meiso de expressão tem igual qualidade.



A verdade que, no quadro de uma representação, o público leva mais em conta os intérpretes que o texto. Poderá mesmo ficar satisfeito por ter visto um texto medíocre muito bem representado, mas não suportará um texto de alta qualidade interpretado desastradamente por atores medíocres.



A verdadeira glória do ator está em transmitir deste modo, por meio de uma arte mais diretamente assimilável, as belezas de um texto, ao qual o público ficaria,sem ele, dificelmente permeável.

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